sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Memorex [002]

Era terça feira de carnaval. O sol brilhava em Fortaleza e o cenário era a Praia do Futuro. Três amigos, diversos copos, muitas garrafas e uma réstia de desapontamento chega com o entardecer: e a folia, não vai ter?!

Bendita folia. Fortaleza é uma cidade de modas. Por aqui, há bares que nascem no apogeu e, tão rápido quanto ascendem, somem. Tem sido assim há muito tempo. Aliás, a única moda que "pegou" foi a de comer caranguejo às quintas, mas isso é outro papo. Bom, na toada da moda, o carnaval do momento estava bem perto, logo ali, em Aquiraz, na tal Praia do Presídio. Era o da vez, o da moda e, portanto, uma multidão ali estava, a menos de uma hora.

De pronto, em consenso, lá vão os amigos rumo à folia, atrás do trio e - não esqueçamos - em meio a uma enorme leva de seguidores da tendência praiana do momento. Primeiro, veio a ideia, depois o garçon com a conta, ainda na Praia do Futuro e, em seguida - já disse alguém - "só não vai quem já morreu".

E foram os três. Uma passagem por um posto, para abastecer o quarteto (incluindo o carro, é claro) e seguir. Dentre as aquisições, como símbolo da euforia desmedida, duas garrafinhas de cachaça, daquelas que cabem no bolso. Uma beleza! Praticidade e efeito rápido em meio às cervejas que também saíram com eles da lojinha de conveniência do posto.

Depois de esperar numa fila, já que a Polícia impedia, parcialmente, trânsito no sentido que os levaria ao caminho do trio; depois de rever padrinho e até pedir pra usar banheiro em casa da beira da estrada, lá chegaram. Começava o carnaval, apesar de já passar das 15 horas da terça, era nesse ritmo que pisavam aquela areia.

Horas se passaram e a garrafinha saía e voltava ao bolso. Recicladores também festejavam a quantidade de latinhas indo ao chão e a multidão na mesma levada: "tira o pé do chão!". Seguindo o trio elétrico, encontrando amigos e dividindo lembranças dos carnavais nos salões perfumados, limpando a maizena das faces e arrastando areia nas "ruas". Era mesmo carnaval.

A noite chegou e, justamente após rejeitar um convite para pernoitar por ali, terminava o carnaval. Na Praia do Presídio, terminava, também, a água nas casas, a bebida nos bares e, infelizmente, a luz elétrica também se foi. Ah, a luz elétrica! Ela é a marca da civilidade e, sem saber, não se costuma dar o valor que ela tanto merece.

E não consideremos a lua, pois além de escondida, ela é dos namorados e não servia, em nada, aos três foliões de última hora. Ainda mais depois daquele "baile" de carnaval na contramão, como diria Raul. Enfim, dispersando-se da multidão, mal sabiam os incautos que a maior lembrança do carnaval apenas começava a se desenhar.

Por falar em desenho, em vez de escrever mais, eis um gráfico, uma simulação do que houve na escura e então desconhecida Praia do Presídio, na simples caminhada para chegar ao carro:




Detalhe: trilha amarela e trilha laranja são sobrepostas, se confundem e, obviamente, apenas marcam trechos, sem considerar que eles foram percorridos diversas vezes.


Para finalizar esse trecho de memórias, ressalte-se que o gráfico faz mesmo mera simulação, pois não foi possível representar, nessa visão, as horas e horas de caminhada inócua. Chão, círculos, ajuda que não vinha, telefone sem bateria, postes que não iluminavam nem serviam de referência, garrafinha quase vazia no bolso e a quarta feira chegando. Memorex 3 está por vir, pois esse termina com o abençoado bipe do alarme do carro e, junto dele, a "certeza" nunca comprovada de que passaram por ali, pelo menos, uma sete vezes naquela noite.
.

Um comentário:

  1. Essa história é estimulante, convidativa e conspiratória, beirando o sobrenatural... Gostaria muitíssimo de ter sido um desses três amigos.

    ResponderExcluir